Meu querido Chris,
eu tentei. Tentei de tudo, te juro! Mas como sempre, tentei tarde demais.
Fui uma tola. Neguei o óbvio. Tive a chance de mudar tudo e a joguei fora, como quem joga algo precioso no lixo – por pura ignorância – e depois se arrepende. Agora a minha chance de mudar tudo está à milhas de distância, está inatingível. Completamente inatingível, assim como você. Tudo está nublado, cinza.
Ah, cinza. Os seus olhos.
Me lembro perfeitamente do jeito como você costumava me fitar. Sem expressão definida. Eu nunca conseguia decifrar o seu olhar, mas você sempre decifrava o meu. Por mais que eu tentasse, nunca consegui ser um enigma para você, embora você fosse um total mistério para mim. E mesmo assim, mesmo sem conseguir ler o seu olhar, eu gostava de olhá-lo nos olhos. O mistério do cinza dos teus olhos não era intimidador para mim, e sim convidativo. Gostava de fitá-lo só por fitar, sem muita explicação; só por gostar da sensação que aquilo me trazia: me trazia conforto, sempre trouxe.
E me lembro do modo como você odiava sorrir para fotos: era justamente por isso que eu gostava tanto do seu sorriso. Eu ainda consigo te escutar rindo, mas o som parece cada vez mais longe, como se você estivesse me escapando. Eu tento fazer com que não vá embora, mas é como tentar segurar fumaça com as mãos.
E então veio a escolha que poderia mudar tudo, e a decisão errada...
- Ei, Lis, é sério. Preciso ir embora, e não voltarei... por algum tempo.
- Você não está falando sério, Chris.
Nós caminhávamos pelo campo de mãos dadas. Havia cheiro de rosas no ar. Tudo parecia bem.
- Nunca falei tão sério na minha vida – você respondeu, se virando para mim e soltando a minha mão – preciso que entenda, porque eu não quero te deixar...
- Nem eu quero que me deixe! Ei, preciso de você. Sabe que é o meu melhor amigo.
Lembro-me que você mudou o peso de um pé para o outro, desconfortável.
- Não poderemos nos comunicar quando eu for embora – você murmurou – nada de internet, telefones ou cartas.
Eu não achava que você estivesse falando sério.
- Certo, mas você voltará?
- Um dia, talvez. Por você.
- Então pode ir, Sr. Misterioso. Contanto que volte. Estarei esperando.
Você colocou as mãos nos meus ombros e me encarou com seus olhos cinzas. Não consegui ler sua expressão, como sempre.
- Eu te amo, Lisa.
Eu ri.
- Eu também te amo, seu bobo. Você me abraçou, e pela primeira vez, senti medo de que estivesse falando sério. Enquanto tu afagava meus cabelos, desejei que não me soltasse nunca. Eu poderia te abraçar para sempre e não seria o suficiente. E então você fez algo que me deixou confusa por muito tempo: me beijou de leve nos lábios. Pela primeira vez; mas não última, eu esperava. Depois disso foi embora, e aqui estou eu, tanto tempo depois. Você ainda não voltou.
Tudo que eu tenho agora são saudades e um gosto de arrependimento na boca. Deveria ter dito para você ficar, mas fui tola demais para isso.
Sinto falta do seu olhar, do seu sorriso, do seu cheiro, de como você sempre me protegia, dos seus abraços e, acima de tudo, sinto falta de mim mesma. Porque a Lisa que você deixou não é a mesma que está aqui, agora. Esta é mais amargurada, arrependida por atos não realizados e sem esperanças.
Ainda estou esperando você, Chris. Sempre estarei. Volte logo.
Com muito amor,
sua Lis.