segunda-feira, 2 de julho de 2012

The End



Ser apenas mais um número, uma outra matéria inútil no espaço. Que importância ela teria, afinal? Tudo que passava pelos seus olhos parecia uma sucessão de borrões, extremamente nublados. Porque tudo que os seus sentidos testemunhavam não poderia ser real.
Ah, sentir.
Como aprendera a odiar esta palavra.
Porque, para ela, era preferível não sentir nada. Era mais simples. Seus sentimentos só serviam para atrapalhar o teatro que obrigava-se a manter todos os dias. Sendo assim, ela precisava esconder cada fagulha de sentimento que possuía. Cada fagulha de vida.
Vivia uma quase-vida, percebeu mais tarde – provavelmente tarde demais. Morta já estava a muito tempo, por dentro.
- Quanto mais você se importa, mais tem a perder. – Repetia para si mesma sempre que podia.
E “vivia” cada vez mais imersa em seu próprio mundo, sendo engolida pela sociedade que nunca percebeu diferença alguma naquela menina – que nunca se importou.
Ela estava em todo lugar. Seus sonhos estavam mais escuros e distantes, parecia impossível alcança-los. Mas não se importava. Perdeu a fé, foi deixada para trás.
Ela estava em todo lugar.
Mas de repente, não estava em lugar nenhum.
E ninguém notou.
O quão terrível é amar alguém que a morte pode tocar?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Não teria dado certo, de qualquer maneira.

Como era estranho olhá-lo daquele ângulo.
Não que aquilo me magoasse. Eu aprendi a não me importar muito rápido.
Rápido demais.
Continuo sem me importar.
Mas era estranho, de fato. Chegava até a ser curioso. Era tão fácil me imaginar no lugar daquelas pessoas. Tão fácil imaginar o que teria acontecido se as decisões tomadas fossem diferentes. Tão fácil... E ao mesmo tempo, tão fora da minha realidade.
É engraçado como às vezes rimos das nossas antigas escolhas. Como tantas vezes tentamos, mesmo sabendo que é impossível, voltar de alguma forma ao passado, e então mudar tudo...
Não que eu tenha vontade de fazer isso.
Essa é uma das poucas coisas das quais não me arrependo. Não era pra ser. Não teria dado certo, de qualquer maneira. Foi melhor assim.
Como já disse, eu não me importo mais.
Só tem uma coisa que não entendo: como aconteceu.
Foi aos poucos e foi de repente. Ninguém pediu para isso acontecer. Ao menos, não claramente, nem em alto e bom som.
“a dor do nunca”.
Apenas uma despedida muda que passou despercebida.
Um adeus.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Esperando a esperança.


Não há vida nas palavras. Todas elas são apenas letras juntas, arranjos aqui e ali, e então tudo está pronto. Há vida em quem as escreve, em quem as põe para fora. Há vida nessa necessidade de viver uma vida que não é sua através de meras palavras. Ou vivê-la da melhor maneira possível.
Palavras são vazias, não possuem sentimentos, são simples. Nós as complicamos, as usamos em nosso favor.
Mas são companheiras, e isso são por si só. Só irão abandonar alguém quando esse alguém abandonar a si mesmo, quando não houver esperança nem nada mais pelo que lutar. Porem, a esperança está sempre por perto. Nos dias sombrios e tristes que estão por vim, a esperança adormecerá, permanecerá escondida por um longo tempo e tudo irá parecer perdido. Mas ela nunca irá desaparecer, não de verdade. É nisso que gosto de acreditar.
Gosto de acreditar que a minha esperança ainda está por perto, escondendo-se de mim, fazendo-me passar pelo que passo porque eu talvez mereça. Mas um dia ela irá voltar. E eu sei bem que rosto ela tem, irei reconhecê-la imediatamente e não irei perder a oportunidade de fazer tudo voltar ao normal.
A esperança possui vários rostos. Os rostos daqueles que tanto me fazem falta, daqueles que se foram para sempre, mas que irão dizer "Estamos por perto. Não é sua culpa. Amamos você." Os rostos dos tantos que me decepcionaram, daqueles de quem esperamos companhia nas horas mais difíceis, mas que simplesmente somem quando mais precisamos deles. Para estes, terei que aprender a dizer adeus, por mais que me doa; e no final, não será uma perda: estes não são os verdadeiros amigos. E por fim, aqueles que nos fazem bem. Algumas vezes, quando pensamos que tudo está perdido; vemos algum rosto, escutamos alguma voz, recebemos algum carinho; e sabemos que isso basta, que tudo está bem só porque essa pessoa está lá por nós. Nunca irei esquecê-los, serei sempre grata. Eu tenho uma boa memória. Para as coisas boas, e a para as ruins.
Difícil é acreditar que todas essas palavras são verdadeiras, que valem realmente a pena serem lidas, porque são apenas palavras. Palavras vazias, sem vida. Mas eu coloquei nelas o meu coração, e o confio a quem quer que as leia. Sendo assim, peço que confiem em mim também. Porque acima de tudo, a esperança mostra os nossos desejos mais profundos. Desejos que até mesmo nós ainda não descobrimos. 
E se o coração de alguém não é o suficiente para você, então nada nunca será.
 

domingo, 17 de julho de 2011


 Meu querido Chris
 eu tentei. Tentei de tudo, te juro! Mas como sempre, tentei tarde demais. 
Fui uma tola. Neguei o óbvio. Tive a chance de mudar tudo e a joguei fora, como quem joga algo precioso no lixo – por pura ignorância – e depois se arrepende. Agora a minha chance de mudar tudo está à milhas de distância, está inatingível. Completamente inatingível, assim como você. Tudo está nublado, cinza.

 Ah, cinza. Os seus olhos.
 Me lembro perfeitamente do jeito como você costumava me fitar. Sem expressão definida. Eu nunca conseguia decifrar o seu olhar, mas você sempre decifrava o meu. Por mais que eu tentasse, nunca consegui ser um enigma para você, embora você fosse um total mistério para mim. E mesmo assim, mesmo sem conseguir ler o seu olhar, eu gostava de olhá-lo nos olhos. O mistério do cinza dos teus olhos não era intimidador para mim, e sim convidativo. Gostava de fitá-lo só por fitar, sem muita explicação; só por gostar da sensação que aquilo me trazia: me trazia conforto, sempre trouxe. 
 E me lembro do modo como você odiava sorrir para fotos: era justamente por isso que eu gostava tanto do seu sorriso. Eu ainda consigo te escutar rindo, mas o som parece cada vez mais longe, como se você estivesse me escapando. Eu tento fazer com que não vá embora, mas é como tentar segurar fumaça com as mãos.
 E então veio a escolha que poderia mudar tudo, e a decisão errada...
- Ei, Lis, é sério. Preciso ir embora, e não voltarei... por algum tempo.
- Você não está falando sério, Chris. 
Nós caminhávamos pelo campo de mãos dadas. Havia cheiro de rosas no ar. Tudo parecia bem.
- Nunca falei tão sério na minha vida – você respondeu, se virando para mim e soltando a minha mão – preciso que entenda, porque eu não quero te deixar...
- Nem eu quero que me deixe! Ei, preciso de você. Sabe que é o meu melhor amigo. 
Lembro-me que você mudou o peso de um pé para o outro, desconfortável. 
- Não poderemos nos comunicar quando eu for embora – você murmurou – nada de internet, telefones ou cartas. 
Eu não achava que você estivesse falando sério.
- Certo, mas você voltará?
- Um dia, talvez. Por você.
- Então pode ir, Sr. Misterioso. Contanto que volte. Estarei esperando. 
Você colocou as mãos nos meus ombros e me encarou com seus olhos cinzas. Não consegui ler sua expressão, como sempre. 
- Eu te amo, Lisa.
Eu ri.
- Eu também te amo, seu bobo. Você me abraçou, e pela primeira vez, senti medo de que estivesse falando sério. Enquanto tu afagava meus cabelos, desejei que não me soltasse nunca. Eu poderia te abraçar para sempre e não seria o suficiente.  E então você fez algo que me deixou confusa por muito tempo: me beijou de leve nos lábios. Pela primeira vez; mas não última, eu esperava. Depois disso foi embora, e aqui estou eu, tanto tempo depois. Você ainda não voltou.
 Tudo que eu tenho agora são saudades e um gosto de arrependimento na boca. Deveria ter dito para você ficar, mas fui tola demais para isso. 
 Sinto falta do seu olhar, do seu sorriso, do seu cheiro, de como você sempre me protegia, dos seus abraços e, acima de tudo, sinto falta de mim mesma. Porque a Lisa que você deixou não é a mesma que está aqui, agora. Esta é mais amargurada, arrependida por atos não realizados e sem esperanças.
 Ainda estou esperando você, Chris. Sempre estarei. Volte logo.
Com muito amor,
sua Lis. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sempre ao seu lado


 Havia uma moça. Seu nome era Jane. Havia um rapaz, também. Seu nome era David. Eles se conheciam desde... sempre. Quando eram bem pequenos, foram muito amigos. Mas eles não se lembram mais disso. Jane e David cresceram juntos. Brigavam muito. Ah, perderam tanto tempo brigando! Mas dizem que os melhores relacionamentos são aqueles em que há muita briga, muita discussão... e mesmo assim, muito afeto. No caso deles, isso era verdade.
Aos poucos, eles foram crescendo, e essas brigas se transformaram em amor. Ou talvez o amor sempre estivesse lá, e só eles não viam. Enfim. Até namoraram por um tempo. Ah, foi de longe a melhor época da vida deles! As pessoas comentavam o quanto eram bonitos juntos; como os olhos cinzentos dele costumavam brilhar quando ela estava por perto; e o modo como ele a fazia rir, de um jeito que ninguém jamais fizera: era um sorriso meigo, um sorriso doce, o sorriso da verdadeira Jane.
 Então, acabou. Não, na realidade, não acabou. Ela foi estudar na Europa, e ele mudou de cidade. Mas o amor deles não foi embora. Permaneceu um tempo escondido, intocado, cheio de saudades, é verdade. Mas os olhos dele nunca mais brilharam do modo que costumavam brilhar quando a via, e ninguém jamais a fez rir como ele fazia. Eles ainda não sabiam, mas o que ambos desejavam secretamente era o dia do reencontro. O dia em que os olhos do rapaz finalmente voltariam a brilhar como de costume, e ela voltaria a sorrir daquele jeito especial.
 Mas esse dia nunca chegava.
 E eles foram levando a vida... hoje em dia, sentem falta das brigas. Porque não brigam mais. Nem se falam.
 Não sei o que irá acontecer com eles. Talvez, um dia, eles finalmente se esqueçam. Mas eu acho que não. Não sei nem ao certo porque estou contando essa história. Talvez eu seja uma irmã da Jane, uma amiga, ou talvez eu seja a própria Jane. Não importa. A única coisa que eu realmente sei é que, embora eu diga o contrário, eu não desisti do amor. Eu não desisti de você, David, seja lá quem você for. 

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sorrisos e um velho amor.

 Um sol tímido saía discretamente por entre as nuvens, o que deixava Elizabeth muito satisfeita. Ela adorava o frio - mas ainda não sabia - que só o adorava, porque depois de um dia frio, o sol sempre vinha para aquecer. É como um abraço, um beijo: se está carregado de saudades, será ainda melhor.
 Mas neste dia, neste dia em que o sol saía de mansinho de trás das nuvens, Elizabeth, ou lizze, como gostava de ser chamada, estava em um trem. Estava deixando sua querida Londres, e não podia se sentir mais infeliz por isso. Ela não sabia o que iria encontrar quando o trem chegasse ao seu destino final, não tinha idéia de como seria sua vida daquele momento em diante; E, de tão perdida que estava nesses devaneios, levou um grande susto quando olhou para frente e deu de cara com um rapaz de olhos estranhamente cinzas sentado de frente para ela.
- Olá. Belo dia, não? - disse o rapaz com uma voz suave
- Olá - respondeu Lizzie - É, lindo dia. Lindo demais para mim.
- O que houve? Você parece preocupada.
- Desculpe, mas minha mãe sempre me disse para não confiar em estranhos.
- Ora, mas você não é mais uma menina. Deve ter mais de 15 anos...
- Tenho 16, na verdade - disse Lizzie, interrompendo-o - Mas nunca segui os conselhos da minha mãe e graças a isso estou neste maldito trem.
- Tudo bem, eu entendo.
 Lizzie não respondeu. A verdade, pensou ela, era que ele não entendia nada. Não passava de um estranho, como ela mesmo dissera. Então voltou a olhar para a paisagem difusa que passava pela janela, mas sem realmente enxergar paisagem alguma. Seus pensamentos foram para longe dalí, para uma época em que ela era muito feliz e não sabia... Até perceber que o estranho rapaz a observava atentamente.
 A garota se virou para encará-lo e dizer o quanto era desconfortável ter ele ali a observando, mas não chegou a dizer nada. No momento em que finalmente fitou seus olhos cinzas, foi tomada por uma sensação estranha. Naquele momento, Lizzie sentiu que já o conhecia, como um velho amigo, um velho irmão, ou até mesmo como um velho amor.
- Vamos, Lizzie. Eu não sou como a pessoa que te deixou nesse estado - disse ele, com um leve sorriso no canto da boca
- Como sabe meu nome? - perguntou desconfiada
- Sabendo. Além do mais, você tem cara de Elizabeth.
Lizzie tentou dar um sorriso amigável. Não conseguiu.
- Parece que faz algum tempo desde a última vez que você sorriu - disse o rapaz com sua voz calma
- Não tanto tempo assim... Bah, sorrisos forçados e amarelos fazem parte do meu dia-a-dia.
- Devia tentar sorrir mais. Sorrir sempre é sinal de um bom começo..
- Ah é, é?
- É sim. E quem avisa, amigo é.
- Não seja ridículo. Nem ao menos sei seu nome...
- Meu nome é Peter - disse, e nesse momento, parecia haver um temporal em seus olhos cinzas - mas você costumava me chamar de Peter Pan.
 Ela sorriu.
 Os dois se abraçaram, e tanto Peter quanto Elizabeth sabiam que não havia nada no mundo que iria fazer os dois deixarem um ao outro novamente. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sobre nuvens, chocolate e uma caneca cheia de nostalgia.


 Está chovendo lá fora. Tenho leite quente em uma caneca, chocolate, papel  e lápis. O frio é o tipo de coisa que eu sempre gostei, porque sempre me lembrou algo. Algo que eu nunca tinha me preocupado em descobrir o que era. Mas agora, eu descobri.  Na realidade, eu não tive outra escolha. Faz muito tempo que venho fugindo dessa resposta, mas o céu nublado traz estampado nas nuvens as palavras que tanto me machucam.
 Sempre gostei do frio, porque você sempre esteve aqui para me aquecer. Você sempre esteve aqui para me dar uma caneca engraçada de presente, para esquentar o leite e comprar algumas barras de chocolate. Os papéis e o lápis sempre foram por minha conta.
 Nesse momento, tudo que tenho é uma antiga caneca cheia de nostalgia. O leite está esfriando. O chocolate está azedando. O papel e o lápis, fieis como sempre, não me abandonaram, mas foram os únicos que não o fizeram.
 O leite esfriou, e o chocolate azedou. Você não voltou. Meu coração está congelado, assim como tudo ao meu redor, esperando o calor do seu sorriso chegar, e assim, quem sabe, tudo voltar ao normal.